M.D.A.90sSejam bem vindos, este blogue foi construído com o objetivo de dar a conhecer e de relembrar os sons que fizeram vibrar as discotecas,rádios e televisões portuguesas dos finais dos anos 80 a inicios dos anos 2000.

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No tempo em que havia editoras discográficas em Portugal, era costume a publicação de colectâneas com os “maiores êxitos” nacionais e internacionais.

As editoras degladiavam-se com os seus catálogos e era uma profusão de títulos: Jackpot, Hit Parade,, Fido, Os Super 20, Vinte Super Bombas, Abana O Capacete, Dance Mania, Supermix, Dance Power, Electricidade, Top Star …

A editora Vidisco, fundada em 1986 e sediada na Pontinha, tornou-se nos anos 90 a maior editora discográfica somando sucessos em várias frentes. Uma delas era na música
nacional, quer aproveitando o boom da música “pimba” e promovendo artistas do género
como Emanuel (autor do hit que deu nome ao fenómeno), o pequeno Saúl ou o
Agrupamento Diapasão, quer em grupo de pop-rock como os Íris, o Império dos Sentados, os Anjos ou os Santamaria. Outra foi promovendo artistas brasileiros radicados em Portugal como a dupla sertaneja Lucas & Matheus e sobretudo, Iran Costa cujo seu “Album Dance” vendeu mais de duzentas mil cópias em 1995, graças ao inescapável “É o Bicho”.
(Presumo que haja hoje em dia duzentas mil pessoas que preferem esquecer que compraram esse disco). Mas sem dúvida que onde a Vidisco era a líder incontestada em Portugal era na dance music. Primeiro porque possuíram a label Kaos Records pela qual assinaram projectos que colocaram Portugal no mapa da música de dança, como os Underground Sound of Lisbon (dos lendários DJ Vibe e Rui da Silva) ou os LL Project. Mas também sobretudo pelas colectâneas que reuniam os principais êxitos do eurodance, que eram inevitáveis campeãs de vendas, disparando para o n.º 1 dos tops (o que promoveu a necessidade da criação de uma tabela de vendas só para as compilações, que surgiu em 1995). Numa quase dependência psicotrópica, vários portugueses compravam a mais recente compilação em CD ou cassete e consumiam-nas para os mais diversos fins: para simular raves nas festas de anos, para tocar nos carrinhos de choque, para ouvir no carro com o volume no máximo a caminho da praia ou da discoteca ou, como eu, simplesmente para ouvir e dançar no quarto com a maior pujança e (des)elegância. E quando as canções já passavam de prazo de validade, esperava-se ansiosamente pela próxima dose, ou seja, a próxima colectânea. E felizmente havia várias ao longo do ano, sendo estas as seis principais.
Começava-se no início do ano com a “Electricidade”, cujo nome vinha do mítico programa
da Rádio Cidade (o primeiro volume data de 1994).
Na Primavera, surgia a Dance Mania (primeiro volume editado em 1993)
Com o Verão vinha o Dance Power (primeiro volume editado em 1994)
A chegada do Outono era comemorada com os “16 Top World Charts” (primeiro volume é de 1990)
E no auge do sempre proveitoso mercado natalício, dose dupla com o Supermix  (em que  o primeiro volume foi lançado em 1987) e o Top Star (primeiro volume editado em 1990).
Todas estas colectâneas continham a esmagadora maioria dos vários êxitos eurodance que pulavam nas pistas de dança e nos carrinhos de choque. Entre os nomes mais assíduos e famosos estavam Whigfield, 2 Unlimited, Corona, Outhere Brothers, Twenty 4 Seven, Cappella, Fun Factory, Faithless, Ice MC, Double You, Technotronic e E-Rotic. E para colmatar a ausência de hits originais do género que pertenciam a outras editoras, havia covers mais ou menos fiéis, como por exemplo, Vany, uma voz da Rádio Cidade, a versionar os êxitos dos 20 Fingers como “Lick it” e sobretudo, “Short Dick Man”. E por falar em covers, havia também amiúde versões dançáveis dos hits da altura, como “Zombie” dos Cranberries por Venus e “Think twice” de Céline Dion por Rochelle.
Outros dos atractivos das compilações era os megamixes dos principais hits contidos no disco.
A febre das compilações de dance music era tal que várias editoras também tentaram a sua sorte com colectâneas como “Alta Tensão” e “Climax” (da Edison), “Radioactividade” e “Madmix” (da BMG) e “Mega Dance” (da Sony Music), mas nenhuma delas sem roubar o trono das colectâneas da Vidisco. Até a principal editora do género em Espanha, a Blanco Y Negro Music, editou algumas das suas colectâneas no mercado português.
Para quem não tinha dinheiro para estar sempre a adquirir as colectâneas, havia sempre a alternativa de pedir emprestado a um colega (havia sempre um que tinha comprado) para gravar em cassete. Recordo com saudade os tempos em que eu e um colega meu do 9.º ano combinávamos entre nós qual é era a colectânea que cada um comprava para depois emprestar ao outro para gravar. (É a esse meu colega, a quem um acidente de viação roubou-lhe a vida demasiado cedo, que dedico este texto).O auge destas sucessões de colectâneas durou entre 1994 e 1997, se bem que a maioria delas tenha continuado pelo resto da década de 90 e princípios do século XXI. Actualmente, a Dance Mania e o Dance Power são os únicos títulos sobreviventes (sem contar com o Supermix recentemente ressuscitado), e os outros títulos foram dando lugar a outros como o “Anual Mix” e o “Orbital Mix”, que têm contribuído para manter a Vidisco como a líder nacional das colectâneas de música de dança.

FONTE

Enciclopédia de Cromos